Afinal somos feitos de quê? Há pessoas com personalidades fortes e marcantes ou é o conjunto espaço/tempo/personalidade que nos define?
Esta sociedade incute-nos a facilidade de sermos o que quisermos: apenas basta lutar dia-a-dia para transformar a nossa existência na nossa “dream-life”. Eu própria sempre acreditei nisso e sempre me esforcei por continuar a tentar transformar-me naquilo que quero ser.
Mas tendo vivido em 6 cidades de países diferentes, estou a chegar à conclusão que sozinhos, não é possível… Por mais fortes que sejamos, por mais esforço diário, somos uma combinação do que queremos e do que nos rodeia. Trocando por miúdos, por mais persistente que sejamos na transformação da nossa realidade, o sucesso depende não só do nosso empenho mas da aceitação do mundo que nos rodeia. Por mais esforço que seja feito, apenas será bem sucedido se for aceite pela comunidade… Ou isso ou tenho múltiplas personalidades!
Por exemplo, eu sou uma pessoa bastante cosmopolita. Gosto de caminhar entre muita gente desconhecida. Gosto de passar vezes sem conta na mesma rua e ser sempre surpreendida por algo novo, algo no qual nunca tinha reparado. Não gosto de entrar num café e conhecer todas as caras. Não gosto de ir na rua a saber a vida de todas as pessoas que me cruzam. Para mim, o mundo tem imensa piada com a minha imaginação e para isso preciso de caras novas, telas brancas nas quais me vou dispersando a preencher histórias, enredos, sentimentos, pensamentos. Como tal, não é de estranhar que me sinta perfeitamente “at home” em capitais ou cidades culturalmente activas. Nestas cidades sinto-me, sou e facilmente encontro pessoas que encaixam comigo e sem rodeios se tornam grandes amizades. Claro que gosto de chegar a um sitio e reconhecer algumas caras (os meus amigos), mas normalmente nestes sítios os desconhecidos dominam e o meu mundo continua a parecer um livro aberto, à espera de mais amizades, mais aprendizagem. O reencontro com caras conhecidas torna-se genuinamente delicioso. Um café, uma bebida ou até mesmo um jantar tornam-se óbvios e costumam ser sempre momentos para relembrar uma visa inteira. Pessoas com as quais lidávamos diariamente num sitio pequeno, transformam-se numa multitude de possibilidades. No entanto, em cidades mais pequenas, onde a comunidade se costuma conhecer muito bem, não consigo encaixar. Tenho andado a tentar perceber o porquê, afinal sou bastante adaptável, porque não me adapto a sítios mais pequenos? A conclusão à qual estou a chegar é que, em comunidades mais pequenas, não consigo ser eu própria. As pessoas costumam não ter muito mais que falar do que do seu dia-a-dia e, principalmente, do diz-que-disse e da vida dos outros. Não há exposições semanais, não há bares/cafés/restaurantes suficientes para experimentar sítios diferentes todas as semanas. Mas principalmente, as pessoas gostam de viver uma vida mais clássica, mais arquitetada: trabalho, casa, jantar, televisão, fim de semana com jantares em família, compras, televisão. Isto não é de modo algum uma critica a este tipo de rotina. Apenas é uma rotina na qual não me revejo, que me aborrece e não é uma escolha para mim mesma. Não me sinto confortável e, pior, começo a ficar atenta ao que digo e preocupo-me imenso se fui bem entendida ou não. Consequentemente, torno-me mais cautelosa, mais consciente de mim própria, das minhas palavras e ações. Como numa prisão interna, não consigo ser a pessoa care-free que “naturalmente” sou. E é aqui que quero chegar. O que somos naturalmente? Cada vez mais acho que depende do que nos rodeia, de quem nos rodeia. Somos aquilo que nos deixam ser. Dai a mudança seja sempre o melhor caminho para quem precisa de se encontrar de novo. Quanto a mim, esta mais do que provado que preciso de uma comunidade bastante activa, onde a maioria das pessoas sejam curiosas e constantemente insatisfeitas procurando novas ideias, novas formas de viver diariamente.